Foi num dia cinzento e chuvoso de Outono que me dirigi até ao atelier, carregada de máquinas, microfones e
tripé, para conhecer e entrevistar o homem por trás deste projeto. O que seria
uma entrevista para um trabalho da faculdade rapidamente se tornou numa
conversa informal. E foi muito bom poder conhecer o Ayres, o rapaz/senhor de
camisa verde e de gargalhada contagiante, não só pela sua história mas também
porque é uma prova viva de que a persistência acaba um dia por trazer frutos.
O Ayres nasceu e cresceu no mundo da
alfaiataria. Neto de um dos melhores alfaiates portugueses, Ayres Carneiro da
Silva, passava grande parte do seu tempo no sítio onde tudo acontecia: a loja
do avô. O ambiente do “corta e cose” entre costureiras e alfaiates despertaram
a sua atenção e, um dia, decidiu que este era também o rumo que queria para o
seu futuro. Decidiu, então, partir numa aventura pelo estrangeiro para aprender
mais.
A primeira paragem foi em Madrid, mais
concretamente na “La Confianza” [Escuela Superior de Sastreria]. Aqui
aprendeu e aperfeiçoou a sua técnica. Dois
anos depois, rumou à capital britânica onde trabalhou na famosa rua londrina
dedicada à arte da alfaiataria: Savile
Row. Foi nesta temporada que Ayres teve um dos marcos cruciais da sua
carreira profissional, uma vez que teve a oportunidade de fazer um fato para o
Príncipe Carlos. Quando falei sobre este assunto, a reação não poderia ter sido
mais genuína. “Já contei essa história mil e uma vezes
e posso contar mais mil e uma. Sei que vou ter oitenta anos e ainda vou contar
essa história.”
Mas nem só de príncipes ingleses vive a sua
carreira. Ayres passou também pela cidade que nunca dorme, Nova Iorque, onde trabalhou na Michael Andrews Bespoke, e ainda por Hong Kong.
Aprendeu a técnica.
Conheceu a realidade dos ateliers. Adquiriu experiência. E uma vez que a sua
ideia foi, desde sempre, “aprender fora
do país para aplicar cá dentro”, Ayres voltou e abriu o seu atelier no
Porto.
Pequeno mas acolhedor,
o atelier chega para o trabalho que é diariamente desenvolvido. Os
protagonistas são as máquinas de costura, os tecidos, as tesouras, as linhas e
até os sapatos. Isto porque Ayres decidiu desenvolver o negócio para o calçado.
E o motivo foi muito simples. Quando fazia fatos para noivos, os clientes perguntavam
“E agora os sapatos?”. E assim viu no calçado uma oportunidade.
Mas desengane-se aquele
que pensa que o alfaiate é só para homens. Ayres também recebe mulheres e
portanto o negócio passa pelos dois sexos. Também aposta na formação, portanto
para quem gostava de saber mais sobre esta arte pode ter aulas no atelier.
Aconselho seriamente
que lhe façam uma visita. O atendimento é feito por marcação e tenho a certeza
de que não se vão arrepender. Afinal, ter uma camisa feita por medida e
especialmente para nós não é a mesma coisa do que a camisa comprada no centro
comercial que todos os que passam por nós na rua também podem ter.
Para além do atelier no Porto, o
Ayres tem agora um novo em Lisboa que está prestes a abrir portas. Podem saber mais, aqui.
A presto,
Filipa